24 junho, 2010

o vento sopra o barco de papel

uma noite mais branca

Já não sabia do cheiro macio dos gatos com um palmo de altura. Gosto de amansar-lhes o pêlo e cheirar-lhes a barriga ainda tão redonda e ponteada. Continuam hermafroditas para mim, por muito que me digam sobre a regra dos dois pontos (macho) e do ponto e vírgula (fêmea). Este (ou esta) ficou cá em casa esta noite - dormimos os dois no sofá, diante de tanta miadeira - não posso dizer que estou inteira, mas soube a compota de mirtilos com framboesa ter este bicho junto a mim. Amanhã é o dia de alguém vir buscá-lo (la). Que seja um doce primeiro dia.

Retrato: um dos nossos gatos bebés num encontro casual com um dos nossos gatos bichaneiros.

23 junho, 2010

depois das cinzas

... voltou a florir.

Retrato: flor de orquídea depois dum tempo comprido sem cor e duma experiência amarga com um senhor bonsai.

20 junho, 2010

o colo é um lugar doce

Tenho-me encantado com os ensaios simiescos. Neste, em tons terra e azul esbatido, esbocei o primeiro chapéu. Simples, sem costura à máquina. Apenas dedos e dobraduras. Molde? Aquele tão pouco complicado que aprendemos em criança para fazer barquinhos de papel. Ver aqui.

Retrato: mademoiselle Purpurina no colo depois dos últimos detalhes.

16 junho, 2010

a fazer mais macacos

Enquanto abrilhanto o meu tempo com as mãos em mais ensaios simiescos, começam a chegar-me fileiras de palavras como se sussurradas ao ouvido: "orelhas de macaco", "macacos no nariz", " cada macaco no seu galho", "um macaco também cai da árvore", "com macacos na cabeça", "macaco velho", "o macaco só vê o rabo dos outros", "pentear macacos", "cara de macaco", "fim da macacada" e FAZER MACACOS.
Parece-me que o nosso amor por eles é MUITO maior do que imaginamos.

13 junho, 2010

garotas e rapazotes de bigode

Desde menininha que me lembro de mim com bichanos. No colo, nos pés, na cama, no sofá. Fosse aqui ou acolá, o meu bchhh-bchhhhhssst vinha intuitivamente à boca, num amor grande e resistente aos acrobatas senhores de bigode. E senhoretes, claro. Também bigodeiras e com a delicadeza de donzelas por inteiro. A Violeta veio já com a barriga alinhavada de muita vida e, diante do entusiasmo da casa, eis que nos encantou com as suas crias no aconchego do nosso jasmim. Ainda levanta o pêlo e bufa quando tentamos embalar os pequenotes no colo, mas, depois dum primeiro aviso, aproveita para arejar pelo jardim enquanto trocamos experiências com os rebentinhos (confia nas nossas habilidades gaternais). São quatro, começam agora explorar o mundo depois do ninho, muito curiosos e ainda duvidosos (preciso acrescentar espertos e doces). Por muito apego que haja, procuramos possíveis casas para que possam crescer com amor, dedicação e espaço.

Retrato: as crias da Violeta no segundo dia de exploração do mundo lá fora (confesso que, até hoje, ainda me parecem todos hermafroditas, portanto, precisamos de mais alguns dias para dizer se menina ou menino).

07 junho, 2010

um quotidiano de pormenores

Gosto de viajar pela descoberta de pormenores noutros lugares, por mão doutra gente ou da grande natureza. Fazer os meus dedos tocarem uma parede alinhavada por artistas doutros tempos, seja ontem ou amanhã, os meus olhos diluirem-se em objectos pensados por cabeças doutras formas e o meu coração despojar-se de um punhado de preconceitos e embeber-se no mundo mais como ele é: sem certezas nem importâncias. E agrada-me tanto a palavra saudade quando a sinto.

Retrato: pormenor de Gaudí na casa de Batlló, Barcelona.

02 junho, 2010

o fio umbilical de todos

Se há coisa que me prende a vontade é a possibilidade de trocar experiências e sensações com os outros, seja através duma fotografia, dum riso ou dum boneco de pano. Afinal, há um fio umbilical que nos cruza a todos. Ainda que utópico, seria doce o mundo se assim se cumprisse o amor universal. Mas, como vim a aprender, se fizeres o bem no quadrado curto da tua casa, já é um grande passo para o bem-estar de um bom punhado de gente.
Amanhã vou dar um pulo a Barcelona, renovar alguns sentidos e pulsações. Ainda engendrei levar no bolso um dos coelhos espertos ou a Umblina, o primeiro ensaio simiesco, mas vou esforçar-me por cortar algumas das raízes que teimam atar-me a um único lugar. Aqui. Para não falar da bicha de quatro patas, que fica na casa dos pais. Como tem um peso superior ao exigido só poderia viajar no porão (para já, uma hipótese riscada). E, por este gosto pelo cruzamento de interioridades entre gente de outros lugares, fizemos uns acertos na nossa loja virtual e tem agora segunda língua. Para breve, mais um ou outro coelho, um ou outro símio e, GAHHARRA-GGARR, um PIRATA. Com perna de pau.

Retrato: uma parede vinda do studio VIOLET, o ninho criativo de Camilla Engman e Elisabeth Dunker.