28 setembro, 2010

e mais um gato bichaneiro

Tantos que pude contar por terras mais além. Este, mais empoeirado, mas duns olhos vivos e bem feitos.

Retrato: nos olhos dum gato na beira interior.

27 setembro, 2010

onde o tempo deixou de ser contado

Quase podemos dizer que mudámos o nosso tempo durante esta curta viagem aos lugares que se levantaram da terra ainda antes de Portugal ser nação. Gatos solarengos, a mulher de saias a lavar pêssegos nas águas caídas da pedra, o homem de cajado e chapéu a dizer-lhe "este que me deste amarga na boca". Encantaram-me os ribeiros com marmeleiros nas beiras e o violeta tão macio das urzes.

Retrato: cruzes postas ao alto duma porta, dizem para afastar a trovoada, em Piódão.

21 setembro, 2010

na palma da mão

Fico com aquele frenesim no corpo quando me fazem pousar na palma da mão coisas ainda com cheiro a caixas de papel forradas a tecido floreado já manchado pelo tempo ou baús de madeira carregados de memórias e poeiras. Estes botões e carrinhos de linha e fio devem ter mais para contar do que posso imaginar. Pelas contas da mão generosa de quem veio tanta preciosidade, talvez tragam mais de três décadas. Continuo à procura de matéria-prima para reaproveitar.

Retrato: mais um encontro com objectos do passado.

04 setembro, 2010

o ninho escangalhado

Andamos com caixas, poeiras e memórias de um canto para outro. Uma casa antiga que agora tem novos donos, uma casa provisória que nunca chegará a chamar-se casa e a casa propriamente dita em delicadas obras. Nisto, também sem tecidos para fazer um bicho de pano. Ou um lugar onde possa entender os meus carrinhos de linhas, o dedal e as agulhas, as tesouras, o giz e os lápis de cor. É um bom momento para procura e encanto: tecidos esquecidos nas prateleiras, botões guardados ainda depois da viragem do século, sobras de linhas onde o pó gosta de pousar. Fico tão inteira quando docemente me oferecem caixas com cheiro a tempo ido.