28 março, 2010

a poesia das mãos

Sempre me despertaram encanto as feituras das mãos, como se poesia moldada por dedos de amor e todo um coração imaginário. Hoje, origami. Na ideia, tenho uma parede inteira de borboletas. É um segredo: quando um bicho asado vem no meu encontro na rua da cidade ou na janela de casa e me acaricia com os pós macios das suas asas, fecho os olhos. Por segundos, posso usar a palavra abençoada.

Retrato: duas borboletas em papel reaproveitado num primeiro ensaio da arte das dobragens

20 março, 2010

o amor num formato natural

Acontece, tem vezes. Vamos com a mão certeira ao cesto das coisas vindas na mãe natureza e recuamos. O amor ali, diante dos nossos olhos, num formato tão natural. O quivi com um sorriso docemente traçado. A laranja com uma criança no meio. O pêssego gémeo dum único caroço. A batata em modos de coração. Depois, ficam bem à vista. A boca engole a própria gula e as coisas vindas da mãe natureza passam a fazer parte da nossa vida. Ficam ali dias. Olhamos, apalpamos, sentimos, sorrimos. É muito confortável perceber que momentos tão simples nos fazem sentir esta viagem como especial.

Retrato: batata em modos de coração

18 março, 2010

a grandeza da nossa casa

Temos andado numa procura quase amarga pela CASA. Apontamos com o dedo cheio de amor mas, na maior parte das vezes, os homens engravatados dizem: recentemente vendida, a precisar de muitas obras, com inquilinos, permutada há dias, com vizinhos por cima, sem lugar para estacionar, blá, blá, blá. Até que esta semana encontrámos. Não é de papel nem de tecido, mas é pequenina. Não tem inquilinos nem vizinhos por cima. Ah, e tem um curto jardim para a nossa cadela-gato esticar-se à luz da grande estrela. Temos roído as unhas. É um nervosinho e uma doçura, é o medo e uma enorme vontade. Será que os meus bichos vão ser costurados lá num amanhã muito breve?

Retrato: casa de pássaro reaproveitada da esprit cabane

11 março, 2010

a resistência da boa amizade

Quando os fios da empatia se entrelaçam, nem o pau nem o gato se desprendem. Eis o doce exemplo num canto confortável da nossa sala.

Retrato: o abraço sentido entre o boneco de pau ainda sem nome e um gato bichaneiro chamado Gaspar Hortelã (disponível na loja).

10 março, 2010

a língua é um lugar estranho

A língua pode sentir sabores, apalpar texturas, lamber rostos, humedecer linhas, beijar bocas, dizer todas as palavras que flutuam no mundo. É aqui que se levanta o amargo mais vil, quando a língua de alguém se desprende em indelicadezas. É tão possível falarmos entre tantos com a cortesia que só usamos de vez em quando, é tão reconfortante falarmos entre tantos sem muros nem espinhos. Gosto das utopias porque me amansam a alma, como a Alice do País das Maravilhas que acredita em seis coisas impossíveis antes do pequeno-almoço (como sublinho esta proposta imaginária). Mas se há uma utopia pela qual poderei vir a cegar-me como crente devota é que a maior parte do universo humano (e, sim, inclui a felicidade, o amor e a amizade) está inteiramente ligada ao formato da nossa língua (leia-se sensatez no falar).

Antes de se falar, que se escute. Antes de se dizer, que se pondere. Na vez de acusarmos de que não gostamos disto, por que não explicar que gostamos mais daquilo?

06 março, 2010

o quase bicho cor de rosa

A uns alinhavos de ficar pronto.

Ando a experimentar novos formatos. Todos me encantam, num amor de criança. Por mim, pespontaria uma floresta de pano.

Retrato: o primeiro bicho rosa da doutrolugar, em breve disponível na loja.

05 março, 2010

o aroma da primavera

Parece que somos muitos assim: os novos aromas da quase primavera traz-nos flores aveludadas e coelhos saltitantes à cabeça. Eis o meu primeiro bicho de orelhas compridas, feito com tecidos e linhas reaproveitadas.
Aproveito para agradecer a simpatia da dona senhora mãe que há dias me entregou um último pacote de novelos de linhas que, doutra forma, seriam desperdício. Mais um pequena empresa que fechou as portas. Que haja vontade e oportunidade de florescer de novo.

Retrato: primeiro coelho da doutrolugar, disponível numa loja encantadora, Design com Texto.

03 março, 2010

o doce humor da natureza

Acordamos encrespados com a precisão cortante do despertador, com a balsâmica culpa do consciente atraso, com a asfixiante esperança de vir a ser fidalgo à conta dum bilhete da lotaria. Faca na mão, nem sempre nos entusiasmamos com o perfume rejuvenescedor das tostas com manteiga ou do leite aquecido com chocolate. O cão madrugadeiro também salta aos nossos pés, alegre. O pássaro preso do vizinho canta afinado, o gato no cio mia sem vergonha. Ah. Nas mãos um simples quivi tem um sorriso cravado na pele. Hoje não o como. Amanhã quero ter este doce humor diante dos meus olhos, outra vez.

Retrato: fruto com traço de alegria.