Tantos que pude contar por terras mais além. Este, mais empoeirado, mas duns olhos vivos e bem feitos.Retrato: nos olhos dum gato na beira interior.
| quando a vida acontece |
Tantos que pude contar por terras mais além. Este, mais empoeirado, mas duns olhos vivos e bem feitos.
Quase podemos dizer que mudámos o nosso tempo durante esta curta viagem aos lugares que se levantaram da terra ainda antes de Portugal ser nação. Gatos solarengos, a mulher de saias a lavar pêssegos nas águas caídas da pedra, o homem de cajado e chapéu a dizer-lhe "este que me deste amarga na boca". Encantaram-me os ribeiros com marmeleiros nas beiras e o violeta tão macio das urzes.
Fico com aquele frenesim no corpo quando me fazem pousar na palma da mão coisas ainda com cheiro a caixas de papel forradas a tecido floreado já manchado pelo tempo ou baús de madeira carregados de memórias e poeiras. Estes botões e carrinhos de linha e fio devem ter mais para contar do que posso imaginar. Pelas contas da mão generosa de quem veio tanta preciosidade, talvez tragam mais de três décadas. Continuo à procura de matéria-prima para reaproveitar.