12 abril, 2010

quase gosto da vida que tenho

Esta fileira de palavras veio-me aos dedos no título dum livro, mas gosto de soletrá-la como um sentimento ou uma vontade. Ainda gnomos com meio palmo de altura, percebemos que o mundo não é bem como imaginámos na barriga simplista e confortável da mãe. Mais adiante, já elfos de espadas na mão tão prontos a ir adiante pelos nossos sonhos, encontrámos os primeiros muros altos e as pontes desfeitas. Depois, num corpo que tanto poderia ser duma fada ou doutro bicho, acomodados a uma natureza que na sua imperfeição tanto brilha, podemos já dizer esta fileira de palavras "quase gosto da vida que tenho". O que poderia ser feito para riscar o "quase"? Hum, viveria num castelo humilde junto a um sapal, com vestidos leves e os cabelos compridos, mulher, sem pós mágicos mas um coração grande. Se pudesse, voava na brisa da manhã. Nas horas pardas, ficaria no varandim com heras a espreitar os olhos da noite e teria um bolo de bagas num forno morno. Só calcaria o chão da cidade para perguntar sobre o mundo, se estaria já mais luminoso, e trazer mais panos e linhas para continuar a fazer os meus bichos do bosque. Ah, fecho os olhos. E gosto ainda mais da vida que tenho.

Retrato: árvores abraçadas por heras num bosque qualquer.

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