31 dezembro, 2009

o retrato de hoje

Depois da trovoada, agrada-me a leveza no ar. Quase sublime, palpável. Assim conversámos um dia destes. Também me conforta imaginar que, depois de hoje, virá um dia ainda mais doce. Assim seja. Amanhã é outro ano, nova década. Venha a mudança, sempre tão carregada de tudo o que de FASCINANTE houve todos os anos idos neste Planeta.
Choveu de lavar ideias. Trovejou de acordar emoções.

Um Grande 2010.

30 dezembro, 2009

nova volta em torno do GRANDE sol

Ainda prisioneira da promessa na mudança para 2009 para ser ainda mais fiel aos meus feitios e dizeres (num ensaio ridículo de reduzir a hipocrisia mundial), tenho de confessar que, apesar das muitas gravidades que se podem ver neste nosso planeta, a ideia duma nova translação em torno do SOL traz-me um encantamento efervescente. Sim, é apenas um número, uma outra rodagem no carrossel planetário, mas gosto de encarar esta passagem como uma nova oportunidade, um separador ou um arquivo, o momento ou a metamorfose. Numa espiral irrealista de vontades e esperança, embrenho-me para 2010 com bem-querer e deslumbramento. Na última gaveta da minha cómoda de pensamentos, tranco as más memórias, os mais amargos prenúncios, o medo da morte, a revolta perante a violência e a indiferença, a piedade afiada pelos animais abandonados, a dor silenciosa por todos os que, nesta vida, ao acaso, ou brotaram num lugar de guerras ou de fome e miséria (sejam elas de que natureza for).
Para todos estes, que venha um ano com mais CONFORTO.
Para o nosso planeta, um novo ano de maior CUIDADO.
A mim, basta-me poder respirar num lugar muito meu de criaturas e estórias, junto daqueles que ainda me ouvem e estimam. Parece pouco, mas é muito. Parece simples, mas é egoísmo.

29 dezembro, 2009

o efeito análgésico do natal e novo ano

Ouvia ontem na rádio um psiquiatra (ou ofício que o valha) sobre a gravidade da ressaca do natal e ano novo. Fico muito entusiasmada com a criatividade humana e a possibilidade de se inventarem novos conceitos, novos mundos, novas loucuras. Mas o que o senhor das mentes menos formatadas ia explicando com uma serenidade enervante fez-me algum sentido. E ainda bem. O encantamento destes últimos dias do ano faz-nos sorrir ao mais amargo chefe, fechar a gaveta dos nossos bonecos voodu de grande estima e embrenhar pelas ruas com luzinhas e saldos a chamarem por nós, delicadamente (num sussurro subtilmente magnético). Saltamos os troncos derrubados pelas tempestades de inverno, despimos as roupas diante dum frio mais agreste vindo da incerteza climatérica global e trabalhamos com um afinco que até os frenéticos chineses podem invejar. Depois, é janeiro. De um novo ano. E, ao contrário do esperado (e documentado no momento maior das 12 passas), voltamos ao nosso mundo... normal.
Porquê?
Talvez dê jeito. Afinal, andar sempre feliz também cansa.

28 dezembro, 2009

as falas dos bichos e dos homens

Bocas dizem que se os bichos falassem talvez o animal homem os quisesse mais longe ainda. Se os bichos pudessem contar ao mundo o que sentem quando sabem de vizinhos que envenenam gatos peludos de olhos esmeralda ou vestem caniches de princesas medievais, talvez a nossa consciência do papel do evoluído ramapitecus (nome digno dum ser vivo superior) no universo ficasse ainda mais esburacada. Contudo, há bichos da nossa espécie que quando abrem a boca também afugentam, corpos opacos e um olhar partido. Gente que usa a língua de qualquer maneira, sem fazer atenção de que as palavras podem ser cantadas quando contadas. Dar-lhes uma melodia, um sentido de mais amor. Agora, vejo-os como cavaleiros desarmados que fabricam maldade aparente para se sentirem mais protegidos. Pessoas com medo de acreditar na amizade entre os homens e mostradores dos unhos e saliências dentais por reserva de território. E com tanta vontade por um beijo, afinal.
Se pudesse ver uma vontade minha concretizada, seria que, assim como há bocas a dizerem que amamos os bichos porque estes não falam, houvesse mais bocas a dizer que nos podíamos amar mais uns aos outros por aquilo que dizemos e pela forma como o fazemos. Fica a ideia.

Retrato: 3 gatos bichaneiros ainda em metade.


27 dezembro, 2009

o princípio

Fico curiosa por saber o que acontece quando se juntam num único lugar uma quase escritora que ainda não é, uma suposta psicóloga já sendo, uma esperançada artesã à procura de ser e uma mulher com parte de valentia e mais de subtil delicadeza. Eis que três mulheres e meia se cruzam para falar.

Retrato: o primeiro bicho numa manhã de chuva e invenção.